O Ibovespa caiu 2,86 % com aumento das taxas de juros e temores de recessão; o dólar subiu 4%, o maior ganho desde março de 2020

O Ibovespa caiu 2,86 % com aumento das taxas de juros e temores de recessão; o dólar subiu 4%, o maior ganho desde março de 2020

As declarações de Jerome Powell e o aumento da força das declarações sobre a desaceleração da economia global fizeram com que o principal índice da bolsa brasileira despencasse.

O índice Ibovespa caiu fortemente na sexta-feira (22), marcando o fim do período de negociação do feriado. O principal índice da bolsa brasileira caiu 2,86 %, para 111.077 pontos, a maior queda desde 26 de novembro de 2021 (quando caiu 3,39 %). O índice acompanhava os índices americanos e também confirmava as perdas registradas à noite, quando o B3 foi fechado. A queda na semana anterior foi de 4,39 %.

Ontem, os ADRs (American Depositary Receipts) brasileiros negociados na Bolsa de Valores de Nova York já haviam sofrido quedas significativas. O ADR Dow Jones Brazil Titans 20, que reúne as maiores empresas brasileiras listadas na B3 com recebimentos de opções de ações negociadas nos Estados Unidos, caiu 3,51 %, enquanto o EWZ, maior fundo brasileiro negociado em bolsa Estados Unidos, caiu em 2,63 %.

Os principais índices americanos, por outro lado, tiveram seu segundo dia consecutivo de queda significativa. O Dow Jones caiu 2,86 %, o maior declínio desde outubro de 2020. O S&P 500 caiu 2,77 % e a Nasdaq caiu 2,65 %.

O pessimismo está no ar desde ontem, quando o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que um aumento de 50 pontos na taxa básica está na mesa para a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, seu nome completo em inglês). Além disso, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou em entrevista na sexta-feira que “há uma forte probabilidade de aumento da taxa de juros este ano”.

“Há uma percepção crescente de que o Federal Reserve será forçado a aumentar as taxas de juros a uma taxa mais rápida no futuro próximo, com alguns analistas prevendo aumentos de até 75 pontos de base no próximo Comitê Federal de Mercado Aberto, o que poderia beneficiar o dólar”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.

O dólar também foi um ponto focal do pregão desta sexta. O contrato para entrega futura em maio terminou com ganho de 4,02 %, ou R$ 4,82. Já o dólar comercial teve alta de 4 %, sendo negociado a R$ 4,804 na compra e R$ 4,805 na venda. No entanto, o aumento geral da semana foi de apenas 2,33 %, o que representou uma ligeira queda em relação à semana anterior.

O Banco Central do Brasil, impulsionado por uma forte alta, realizou uma entrevista pela primeira vez desde 23 de dezembro sobre o valor do dólar norte-americano, resultando em um leilão de US$ 571 milhões.

“O que o Federal Reserve declarou recentemente, e que ainda está sendo considerado, é que um aumento de até 2,5 % pode não ser suficiente para manter a inflação sob controle.” Já se fala em alcançar um aumento de 3 % a 3,25 % até o final do ano”, explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. “Esta declaração tem o efeito de reduzir a quantidade de recursos disponíveis para o dólar e para o salário fixo americano.”

A valorização do dólar, assim como o avanço dos títulos do Tesouro, impactaram na elevação da curva de juros brasileira, que se elevou em sincronia. No ano de 2023, a taxa básica do DI subirá um ponto, para 13,04 %, e no ano de 2025, sua taxa básica subirá 13 pontos, para 12,16 %, de acordo com os últimos dados disponíveis. No longo prazo, os DIs para 2027 e 2029 verão seus ganhos aumentarem 19 e 20 pontos, respectivamente, para 11,97 % e 12,08 %, segundo a previsão.

Como resultado, as empresas dos setores de tecnologia e varejo tiveram quedas significativas. Por exemplo, as ações ordinárias da Locaweb (LWSA3) foram uma das quedas mais significativas do índice, com uma queda de 6,29 %.

A distinção negativa foi reservada para empresas exportadoras de commodities, bem como para outros negócios. Embora o Fed e o BCE tenham sinalizado que as taxas de juros aumentariam em resposta ao aumento da inflação em todo o mundo, que está elevando os preços dos bens não manufaturados, o argumento de que uma recessão global é possível tem ganhado força.

De acordo com os investidores, o aumento das taxas de juros aumenta a probabilidade de uma parcela significativa da economia sofrer uma retração neste ano e no próximo. Segundo Alexandre Espírito Santo, “o rendimento dos títulos do Tesouro com vencimento em dezembro subiu para 2,90 %, e em reunião do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington, especulou-se que a economia americana estaria em recessão até 2023.”

O desânimo foi ainda mais acentuado pelos resultados sombrios divulgado hoje, que mostrou que tanto o Reino Unido quanto os Estados Unidos estavam falhando em cumprir suas respectivas metas por uma ampla margem.

Como resultado, as operações comerciais ordinárias da CSN (CSNA3) sofreram a maior queda no índice, resultando em uma queda de 7,68 %. As da Vale (VALE3) obteve um reembolso de 5,80 %. O preço das ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3 e PETR4 ) caíram 4,98 % e 3,90 %, respectivamente, na sexta-feira.

Além dos juros e da recessão, a instabilidade política impacta negativamente o Ibovespa

Além de trazer uma sensação geral de ruína e melancolia em todo o mundo, a capital brasileira também foi bem sucedida em injetar mais instabilidade no cenário político do país. O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter concedido indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e onze meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de tentativa de obstrução ao livre exercício dos poderes do governo e interferir no processo, só serve para reforçar a percepção de instabilidade política.

“Pode ser absurdo a decisão do presidente de conceder indulto ao deputado Daniel Silveira, contrariando a decisão do STF, elevando o perfil da crise institucional entre os poderes”, escreve o Espírito Santo.

Por fim, mesmo no ambiente interno, os investidores estão atentos à pressão sobre os empregados em decorrência dos reajustes salariais, de olho nas possíveis ramificações para a política fiscal. Um protesto da Polícia Federal foi convocado no dia 28, depois que eles manifestaram sua insatisfação com as propostas do governo. Enquanto isso, funcionários da CVM aprovaram a implementação de um procedimento operacional padrão a partir desta segunda-feira, com o objetivo de pressionar o governo federal a fazer um ajuste mais significativo.