Esse cenário, antes considerado impensável ao colapso dos preços das commodities, agora é um risco que o mercado acompanha de perto.
Com as expectativas de inflação se distanciando cada vez mais das metas estabelecidas pelo Banco Central (BC), foi dado o alarme sobre a possibilidade de a Selic manter a mínima histórica de 14,25 % ao ano pelo restante deste ano.
O mercado já começou a perceber essa possibilidade, considerada improvável antes do colapso das commodities (matérias-primas em dólar) desencadeado pela invasão russa da Ucrânia em abril deste ano.
Economistas entrevistados, são unânimes em sua crença de que uma nova taxa de juros exigirá um aumento na taxa de inflação. A Reserva Federal poderá ter de avançar mais uma vez a sua política monetária na direção do pico final, dado que a expectativa mediana do mercado para o final deste ciclo já é de 13,25 %, o que é menos de um ponto percentual da marca de inflação.
Segundo Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, um terminal Selic entre 13,5 % e 14,0 % – que fica praticamente encostado no último pico – seria necessário para trazer a inflação para o centro da economia alvo no próximo ano. Segundo o economista, há dúvidas sobre se o governo estaria disposto a sancionar juros a este nível, dada a indicação no comunicado mais recente de que 12,75 % seria um nível suficiente para promover a convergência.
“Tenho uma dúvida se o BC estará disposto ou não a oferecer juros mais altos do que isso.” “Se isso não acontecer, não poderemos nos encontrar no próximo ano”, conclui Schwartsman. Se os preços do petróleo continuarem em queda, o economista acredita que o IPCA de 2023 deve ficar na faixa de 3,70 %, o que é consistente com o relatório Focus mais recente. No entanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) previu que a inflação chegará a 3,10 % em 2023 se os preços do petróleo continuarem a cair.
Na mesma linha, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, calcula que a taxa Selic deve ser superior a 13,5 % ao final do ciclo para promover convergência da inflação para o centro da meta no ano seguinte para manter as expectativas a longo prazo. No entanto, segundo o analista, o BC parece estar preparado para promover um ciclo de aperto mais relaxado e tolerar um IPCA um pouco acima da meta no próximo ano.
Contra uma elevação da taxa Selic para 14,0 %, pesa o já elevado patamar da taxa real de juros, que é superior ao patamar observado quando a taxa atingiu sua máxima histórica. Segundo Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, essa dinâmica torna improvável o retorno das taxas de juros aos patamares observados em 2015 e 2016.
Segundo João Savignon, economista da Knitro, a retomada do último pico histórico é um risco que se torna cada vez mais improvável diante do avanço do relevante horizonte da política monetária, que deve começar a olhar para o ano de 2024 final do segundo semestre. Como o BC só fará mais duas reuniões antes do final de junho, elevar a Selic de 11,75 % para um patamar acima de 14,0 % exigiria um ritmo mais acelerado de expansão monetária.
É preciso haver algo mais, como uma nova rodada de pressão ou um aumento contínuo dos preços das commodities ao longo do tempo, segundo avaliação da Avalia. “Tendo a acreditar que, se o BC decidir desacelerar o ciclo para 1,0 ponto em março, será extremamente difícil recuperá-lo mais tarde.”