Apesar da escalada da inflação, os Bancos Centrais devem ter cautela para evitar a expansão para o território contracionista diante de um ambiente econômico global tumultuado.
Em meio a uma Ucrânia devastada pela guerra e um aumento no número de casos de Covid-19 na China, os Bancos Centrais do Brasil e dos Estados Unidos da América fizeram com que os mercados ficassem ainda mais agitados do que o habitual. As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco do Canadá e do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve estão acontecendo ao mesmo tempo, e as decisões sobre taxas de juros serão anunciadas amanhã (15), no dia primeira super quarta-feira do ano: serão quatro no total em 2022. Copom e Fomc estão ambos sediados em Washington, DC.
Segundo os analistas da Levante Ideia de Investimentos, as decisões dos dois BCs devem ser semelhantes, com ambos elevando as taxas de juros em um esforço para conter uma tendência inflacionária persistente. “Mais do que as mudanças nas taxas de juros, o que realmente interessa aos investidores é saber como os bancos centrais estão monitorando as dezenas de variáveis que têm o potencial de influenciar o ritmo da atividade econômica e, consequentemente, a taxa de inflação e a taxa de juros”, segundo o relatório do Levante.
Os analistas da empresa acreditam que as taxas de inflação estão significativamente acima das metas estabelecidas pelo Bancos Centrais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Da mesma forma que existem bons motivos para abrir a política monetária, também existem bons motivos para esperar um pouco mais e analisar a situação.
Além disso, o Levante alerta que o aumento do preço do petróleo, que tem sido apontado como um dos principais motivos da aceleração da inflação, perdeu força nos últimos dias. O Levante também chama a atenção para o aumento do número de pessoas infectadas com o subtipo BA.2 de coronavírus, que está aumentando em número na Europa e na China, enquanto impõe restrições estritas na antiga União Soviética.
Assim, os investidores estarão ansiosos para ouvir os anúncios dos bancos centrais. ” Somente através do exame desses documentos será possível determinar onde o vírus da incerteza infectou as decisões de curto prazo da política monetária”, segundo o relatório do Levante.
Fomc: primeiro aumento de juros em três anos
Segundo o Federal Reserve, o consenso geral é que a alta dos preços não é meramente transitória e que o mercado já antecipa uma alta da inflação no longo prazo. O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos atingiu um recorde de 7,9 % em fevereiro, o nível mais alto em 40 anos. Espera-se que atinja uma nova alta de 9 % em março.
O chefe do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizou no início deste mês que a alta de juros prevista para março será realizada conforme o planejado. O consenso do mercado é que a alíquota, que atualmente está entre zero e 0,25 %, seria aumentada em 0,25 ponto percentual. No entanto, se a taxa de inflação não responder em tempo hábil após esse primeiro ajuste, o Banco Central Americano estará preparado para aumentar ainda mais a taxa.
Além da decisão de política monetária, o Safra ressalta a necessidade de acompanhar as últimas projeções de inflação e juros divulgadas pela instituição, bem como quaisquer indícios de redução do balanço de pagamentos da instituição. Após o anúncio da decisão do colegiado, os investidores se reuniram para ouvir o discurso de Powell.
Embora esta seja a primeira reunião após o fim da guerra, as declarações do presidente do Federal Reserve já deram início a um plano de ação para combater as novas pressões inflacionárias provocadas pelo conflito, abrindo a porta para a possibilidade de aumentos futuros da taxa de até 50 pontos base, de acordo com Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.
Apesar da piora da inflação, o Copom deve manter cautela
O Ita acredita que as projeções de inflação do Copom para o período de referência passarão de 5,4 % em 2020 para 6,2 % em 2021, e de 3,2 % para 3,3 % em 2023. De acordo com o consenso do mercado, o banco acredita que o banco central elevará a Selic em um ponto percentual, para 11,75 %, em um futuro próximo.
A análise do Itaú afirma que, dada a situação atual, que inclui o conflito na Ucrânia e os efeitos inflacionários decorrentes do aumento do preço internacional das commodities, a decisão se justifica. No entanto, espera-se que as autoridades elevem a Selic até mesmo níveis mais altos nas próximas reuniões.
Antes da eclosão da guerra na Ucrânia, o Ita havia previsto um aumento de 1 ponto em março, 0,5 ponto em maio e 0,25 ponto em junho. Agora, com a perspectiva de um ciclo de aperto mais intenso, o banco antecipa alta de 0,75 ponto percentual em maio e 0,50 ponto percentual em junho, com a Selic chegando a 13 % no ano e se mantendo nesse patamar até o final do ano.
De acordo com os analistas do Copom, dado o atual estágio de expansão monetária, a taxa de aumento da taxa de juros será mais lenta do que a observada até o final do pregão deste mês. Eles esperam que, ao anunciar a decisão, o Copom chame a atenção para a incerteza do clima econômico global, bem como para as pressões adicionais sobre os preços das commodities durante a inflação deste ano.
“Esperamos também que o Copom indique que, com a Selic em patamar significativamente inferior ao anterior, a taxa de aumento dos juros para as próximas reuniões será reduzida mais uma vez.” “Por outro lado, o Comitê deve manter a flexibilidade na abordagem desse fator moderador, com uma análise risco-benefício ainda assimétrica”, disse o Itaú.
O JP Morgan Chase está seguindo o mesmo caminho. Em circunstâncias normais, um aumento da inflação quase imediatamente faria com que o Banco Central adotasse uma postura mais agressiva. O Banco Central (BC) não só iniciou [a política monetária], como elevou a alíquota básica em 825 pontos em 12 meses, efetivamente colocando o imposto em território restrito. “No entanto, a extensão do impacto e a duração desse estrangulamento global em inflação são extremamente incertas”, escrevem os analistas do banco.
As portas estão abertas para os próximos encontros
Em entrevista à XP, Caio Megale, economista-chefe da empresa, afirmou que a análise dos dados desde a reunião do Copom em fevereiro indica piora do cenário inflacionário, com alta dos preços das commodities, inflação em alta e atividade econômica um pouco melhor do que esperado.
Estudo realizado por Megale e colaboradores utilizando o modelo do Copom prevê aumento do valor projetado do IPCA de 5,2 % em 2022 para 6,4 % em 2023, bem como aumento do valor projetado do IPCA de 3,2 % para 3,4 % em 2023. Além disso, o XP espera um aumento percentual de um ponto percentual na Selic e acredita que o Copom deve deixar as portas abertas para sua próxima reunião ao invés de anunciar outro aumento da mesma magnitude, dada a incerteza criada pelo conflito na Ucrânia e o aperto monetário que já foi implementado.
A mediana dos nós do IPCA em fevereiro foi de 1 %, ou impressionantes 12 % em termos anualizados, o mesmo que a média do mês anterior. “Não há evidências de que o aperto da política monetária implementado pelo Banco Central desde março do ano passado esteja desacelerando a inflação”, afirma o relatório.
O aspecto mais significativo deste anúncio, por outro lado, deve ser a comunicação. Apesar de a Autoridade Monetária não dever assumir as novas magnitudes, a comunicação deve transmitir o tom da resposta da Autoridade às pressões altistas. Por causa da incerteza em torno da economia, continuamos a manter nossas previsões de uma taxa de juros do ciclo final de 12,25 %.
João Beck, economista e sócio da BRA, afirma que, ao contrário do que o mercado previa, haverá pouca redução nas taxas de juros este ano. De acordo com as novas circunstâncias de alta dos preços de alimentos e energia, acreditamos que levará pelo menos um semestre para que os preços comecem a cair. “As expectativas foram adiadas para meados do ano de 2023”, diz Beck.